SBP Sociedade Brasileira de Psicologia

Sofrimento psíquico grave foi abordado sem o cuidado em “O Outro Lado Do Paraíso”

Estudos acadêmicos em Psicologia vem formando uma trajetória de investigações na área de violência sexual. Alguns grupos de pesquisa no Brasil dedicam-se ao assunto, com produção relevante e boa revisão sobre o tema. Recentemente, artigo publicado em 2015, na Revisita Psicologia: Ciência e Profissão, de autoria de Jean Von Hohendorff, Luísa Fernanda Habigzang e Silvia Helena Koller, aborda o tema e destaca a importância da atuação profissional qualificada. 

"A violência sexual contra crianças e adolescentes é definida pela World Health Organization (WHO) e pela International Society for Prevention of Child Abuse and Neglect (ISPCAN) como o envolvimento de uma criança ou adolescente em atividade sexual não compreendida totalmente, sendo esses incapazes de dar consentimento, ou para a qual não estão preparados devido a seu estágio desenvolvimental. Acrescenta-se o fato de que a violência sexual viola leis ou tabus da sociedade. No final da década de 1990, a WHO reconheceu a violência sexual, bem como demais tipos de violência contra crianças e adolescentes, como um problema de saúde pública devido à sua prevalência, às suas consequências e aos gastos econômicos que acarretava.

As consequências da violência sexual ocorrida na infância ou adolescência indicadas pela literatura são variadas, sendo as mais comuns, para ambos os sexos: ansiedade, raiva, dissociação, problemas interpessoais, além de psicopatologias como abuso de álcool e substâncias, depressão, transtornos alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse pós-traumático e transtorno de personalidade borderline (para uma revisão completa, consultar.

As consequências da violência sexual, especialmente as de longo prazo, justificam o investimento em serviços de atendimento com o objetivo de aumentar a qualidade de vida de crianças e adolescentes vítimas e prevenir a ocorrência de psicopatologias na infância, adolescência e idade adulta. A ocorrência de sintomas e psicopatologias em longo prazo indica que a passagem de tempo após a violência sexual sem qualquer tipo de intervenção psicológica não é suficiente para reduzir tais sintomas".

Em nota publicada no dia 05 de fevereiro de 2018, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) esclarece que a telenovela “O Outro Lado do Paraíso”, por se tratar de uma obra capaz de formar opinião, presta um desserviço à população, ao tratar de forma rudimentar e com interesses mercadológicos um tema tão grave como o sofrimento psíquico da personagem cuja origem é o abuso sexual sofrido na infância.

O CFP salienta que são as novelas da Rede Globo que, como estratégia de aumentar a audiência, frequentemente buscam embaralhar as barreiras do ficcional e do real, entre outras formas, introduzindo nas tramas fatos e temas impetuosos da sociedade.

O consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que têm a habilitação adequada. A Psicologia é uma profissão reconhecida pelo Ministério da Saúde como profissional de atuação em saúde no Brasil. A formação em Psicologia preconiza práticas científicas referendadas pelo conhecimento acadêmico, conforme regulação do MEC. E os psicólogos são regidos sob rigoroso código de ética, que garante proteção à população usuária dos serviços de Psicologia.

A Sociedade Brasileira de Psicologia faz um alerta para que as pessoas busquem terapias adequadas conduzidas por profissionais habilitados para os cuidados com a saúde mental. A atuação específica de psicólogos nos casos de violência sexual conta com amplo apoio de práticas baseadas em evidências científicas e uso de técnicas específicas do profissional de Psicologia.

Para saber mais, acesse o link do CFP: http://site.cfp.org.br/o-outro-lado-do-paraiso-presta-desservico-populacao-brasileira/

Referências

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. (2018). “O outro lado do paraíso” presta um desserviço à população brasileira. Disponível em: <http://site.cfp.org.br/o-outro-lado-do-paraiso-presta-desservico-populacao-brasileira/>. Acesso em: 28 fev 2018.

HOHENDORFF, J.V.; HABIGZANG, L.F. & KOLLER, S.H. (2015). Psicoterapia para Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Sexual no Sistema Público: Panorama e Alternativas de Atendimento. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(1), 182-198.

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